Apresentação |
O currículo escolar, infelizmente, se mostra distante das vivências sociais dos estudantes, especialmente no que diz respeito ao ensino-aprendizagem de línguas adicionais. Práticas pedagógicas baseadas na memorização de vocabulário e na aplicação da gramática de forma descontextualizada ainda se fazem presentes em um mundo que se constitui, dia a dia, mais diverso, multicultural e multimodal. Em face desse cenário, é preciso promover um ensino-aprendizagem que seja engajado com as necessidades dos diferentes contextos, a partir do qual os sujeitos possam usar as línguas adicionais como prática social. Nesse sentido, a desencapsulação curricular (Engeström, 2002; Liberali, 2019) visa romper com as práticas mecanizadas que foram cristalizadas historicamente, opondo-se a um modelo de educação bancária (Freire, 1987), no qual o educador é o depositário e o educando o receptor passivo do conhecimento. Um dos modos para a desencapsulação reside no conceito de atividade social (Liberali, 2009), que compreende o ensino-aprendizagem como uma atividade humana que possibilita a participação plena dos sujeitos em contextos diversos. Este minicurso tem como objetivo auxiliar professores de línguas adicionais no planejamento e na implementação de práticas pedagógicas que favoreçam tanto o desenvolvimento das competências linguístico-discursivas (Bakhtin, 1992), quanto a participação autônoma, ética e responsiva dos sujeitos no mundo, proporcionando-lhes mobilidade para agirem nas mais diversas situações da vida real (Marx e Engels, 2006). Inicialmente, faremos uma breve retomada das concepções teórico-metodológicas que ainda permeiam o ensino-aprendizagem de línguas adicionais. Em seguida, apresentaremos o conceito de desencapsulação curricular (Engeström, 2002; Liberali, 2019) a partir dos estudos de Vygotsky (1991), Leontiev (1978) e Engeström (2002), que visam um ensino expansivo e transformador por meio do qual o sujeito torna-se capaz de construir novos sentidos e significados de acordo com sua dimensão social, histórica e cultural. A partir dessa perspectiva, apresentaremos o conceito de atividade social (Liberali, 2009) como uma possibilidade de desencapsular (Engeström, 2002; Liberali, 2019) o ensino-aprendizagem de línguas adicionais, ao articular os conteúdos curriculares aos conhecimentos cotidianos. Em seguida, discutiremos alguns planos de aula pautados nessa perspectiva teórica-metodológica que visam integrar a vida dentro e fora da escola, possibilitando a superação e a transformação das realidades. Na sequência, disponibilizaremos artigos e outras mídias digitais para que os participantes possam se apropriar das características específicas da atividade social (Liberali, 2009) como instrumento de desencapsulação (Engeström, 2002; Liberali, 2019). Por fim, os participantes terão a oportunidade de prepararem um plano de aula com base nessa perspectiva teórico-metodológica e que estejam em consonância com os contextos que atuam. Esperamos, como resultados parciais, que os participantes possam refletir criticamente sobre suas práticas e, sobretudo, pensar em práticas voltadas para a emancipação do sujeito na sociedade por meio de uma língua adicional. |